Lidar bem com esse tipo de situação pode melhorar seu emprego e relacionamentos
Existem diversos graus de estresse e, como tudo na vida, as quantidades excessivas dessa sensação são nocivas para a nossa saúde. Porém, alguns estudos têm aparecido para tirar do estresse o estigma de vilão nessa história toda. Em 2012, um grupo de cientistas da University of Wisconsin-Madison (Estados Unidos) revisou os dados de uma pesquisa feita em 2006 pela National Health Interview Survey, e analisou os impactos do estresse na morte das pessoas. E chegaram à impressionante conclusão de que o estresse só causou um real impacto na saúde daqueles que acreditavam que ele era algo nocivo. Aqueles que não pensavam dessa forma não tiveram morte prematura decorrente dessa pressão.
Para alguns especialistas, tudo depende do estágio em que o quadro está. “Na primeira fase o corpo produz apenas adrenalina que dá força, vigor e energia deixando o organismo de prontidão para enfrentar as tensões que surgirem ao longo do dia”, explica a psicóloga Aretusa dos Passos Baechtold, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Campinas e psicóloga do Instituto Psicológico de Controle do Stress (IPCS). “No entanto os benefícios do estresse só serão válidos se ele não durar mais de 24 horas por adaptação ao estressor ou adaptação ao mesmo”, alerta.
Outra questão é que muitos dos fatores causadores de tensão são internos, por isso mesmo encarar o estresse como algo positivo os reduz. “Quanto mais o indivíduo conseguir ver que dificuldades aparecem para todos e cada uma delas são oportunidades para aprender novas formas de superação, melhor ele lidará com o estresse”, considera a psicóloga clínica Marisa de Abreu.
Mas está difícil encarar essa tensão toda como algo bom para você? Basta pensar que ela nada mais é do que um mecanismo de defesa do nosso corpo, que libera adrenalina para que as funções do nosso organismo se otimizem. Então os músculos se tensionam para o corpo poder fugir ou lutar, o coração e a respiração se aceleram para que mais oxigênio se espalhe pelo corpo e também para o cérebro, e até o suor está ai para que você se refresque.
Inclusive, o corpo se prepara para que depois os efeitos da adrenalina sejam atenuados. “O cortisol irá produzir uma série de reações metabólicas no organismo, que facilita sua adaptação ao impacto do estressor”, ensina o psicoterapeuta José Roberto Leite, fundador e diretor do Centro de Estudos em Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Não se convenceu ainda? Para mudar de ideia, listamos algumas vantagens que você pode tirar do estresse. Confira!
Dá impulso profissional
Uma situação estressante pode ser o momento ideal para dar aquele salto na carreira e mostrar como você consegue lidar bem com problemas e circunstâncias adversas. “No dia a dia sentimos uma série de tensões que nosso organismo entende como se fossem uma ameaça”, explica o cirurgião geral Marcelo Katayama, instrutor de treinamento com foco em desenvolvimento pessoal e diretor no Núcleo Ser. “Quando o encaramos de forma positiva, faz com que produzamos mais, prestemos atenção nos detalhes, ou seja, ele nos empurra para trabalhar de forma mais adequada”, conclui o especialista. Além disso, uma vida sem problemas pode nos colocar na zona de conforto. “O que nos move para frente são as adversidades que nos dão oportunidade para pensarmos de forma diferente do que vínhamos pensando e encontremos novas formas de realizar coisas”, ressalta a psicóloga clínica Marisa de Abreu.
Une as pessoas
Quando o estresse bate na porta e o encaramos de forma positiva, liberamos um hormônio chamado oxitocina, conhecido como o hormônio do amor. “Ele colabora para que tenhamos comportamentos mais socialmente aceitos, menos agressivos e mais empáticos”, descreve a psicóloga Aretusa dos Passos Baechtold, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Campinas e psicóloga do Instituto Psicológico de Controle do Stress (IPCS). Ele faz com que as pessoas tenham comportamentos mais compassivos e se relacionem melhor. “Ou seja, a oxitocina tem um importante papel no controle da resposta neuroendócrina do estresse”, finaliza a especialista. Tanto que um estudo feito em janeiro de 2013 pela University of Bufalo (Estados Unidos) demonstrou que pessoas que buscavam apoio em situações estressante tinham tantos riscos de morte precoce quanto quem não estava estressado. Isso significa que elas se tornavam resistentes ao estresse, criando mecanismos físicos para evitar os sintomas negativos da tensão.
Deixa você mais alerta
O estresse, aliás, foi criado para isso! Ele é um mecanismo de defesa, para que a pessoa fique atenta a algum risco iminente à sua integridade física e mental. “Sua função mais básica é nos alertar de que algo ruim está acontecendo e que devemos tomar providencias”, considera a psicóloga clínica Marisa Abreu. Para isso, mais sangue circula para as regiões vitais do nosso corpo, incluindo o cérebro e os olhos, facilitando os pensamentos e dilatando as pupilas, para que possamos ter uma percepção melhor do sentido da visão. Isso pode ser útil, por exemplo, para perceber melhor nuances de comportamento em uma reunião ou encontro, através da linguagem corporal e outros recursos. “Acredito que o foco necessário para a percepção do outro seja melhorada quando o alerta do estresse foi acionado”, ressalta Marisa. Porém, isso não pode ser demais. “Se o alerta for excessivo, haverá um prejuízo de desempenho mental e a pessoa perde sua capacidade de foco”, enfatiza o psicoterapeuta José Roberto Leite, fundador e diretor do Centro de Estudos em Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Melhora tomada de decisões
Momentos de pressão são uma ótima hora para decidir qualquer coisa, já notou? E isso não é à toa. “O estresse é algo que sinaliza ‘você tem que resolver isso agora’, e como sabemos que muitas vezes não decidir nada é a pior decisão, ele pode nos ajudar a lapidar a coleta rápida de informações para que uma decisão seja tomada”, considera a psicóloga Marisa. É importante lembrar que o cérebro recebe uma maior quantidade de sangue com oxigênio nesses momentos, o que otimiza o trabalho dos neurônios, aumentando as sinapses e, com isso, o fluxo de pensamentos. “O estresse é um momento de decisão, no caso do mundo animal, ele escolhe entre lutar ou fugir. Por isso o estado de alerta nos faz focar no estimulo agressor e na melhor escolha, tentando achar uma saída”, considera o cirurgião geral Marcelo.
Dá um turbo na memória
Normalmente as lembranças se fixam no nosso cérebro mais fortemente quando estão ligadas a alguma emoção, seja positiva ou negativa. Só isso já serviria como justificativa para esse benefício do estresse, não é mesmo? Mas existem outras explicações. “Durante a reação de alerta do estresse, considerada a fase positiva, os hormônios liberados estimulam o centro nervoso da memória e da aprendizagem, melhorando seu desempenho”, ensina a psicóloga Aretusa. Estudos mostram, inclusive, que momentos de ansiedade fazem com que novos neurônios surjam, o que facilita o aprendizado. Mas elas demoram até duas semanas para ficarem maduras. Ou seja, aproveite o momento de mais pressão para executar tarefas que envolvem mais da sua memorização. A especialista ressalta, porém, que situações de estresse negativo reduzem essa capacidade.
Reduz o medo
Durante uma situação de estresse na natureza, o medo é colocado de lado e substituído pelo instinto de sobrevivência. “Não é que ele é eliminado, o medo continua, mas o indivíduo age apesar dele”, ensina Marcelo Natayama. Porém, ele nos lembra que existem dois tipos de medo: o que nos alerta e o que nos paralisa. E apenas durante o primeiro é que conseguimos superá-lo para tomar uma ação.
Torna você criativo
O estímulo à oxigenação do cérebro melhora seu desempenho, inclusive a facilidade de ver caminhos antes obscuros para as situações. Ou seja, você fica mais criativo! Claro, tudo depende da forma como você encara a situação. “Quando você encara o estresse de uma forma positiva, você não só consegue enxergar saídas rapidamente, como tem condições de avaliar se as consequências daquela situação serão as mais próximas do ideal, partindo para alternativas conforme do caso”, considera o cirurgião geral Marcelo. “Agora, se a pessoa está com medo ou raiva nessa situação, que são sensações desconfortáveis, ela tomará a primeira decisão, que nem sempre é a mais indicada”, conclui o especialista.
Fonte: Minha Vida